A Polícia Civil não quer que as facções criminosas criem um “estado paralelo” em Mato Grosso com as extorsões de comerciantes. Nesta segunda-feira (10), a Gerência e a Delegacia de Combate ao Crime Organizado (GCCO/Draco), deflagrou a Operação A César o que é de César e prendeu os dois principais suspeitos de ameaçar e extorquir lojistas de Várzea Grande.
Segundo a polícia, O.R., conhecido pelo apelido de Shelby e líder do esquema criminoso, foi preso em um endereço em Cuiabá. Já C.R.L.S., conhecido como ‘Maxixi’, que ameaçaria os comerciantes, foi detido em sua casa, também na Capital.
A ação vem como resposta aos incêndios criminosos que atingiram lojas de utilidades de Paranatinga (a 384 km de Cuiabá). As investigações identificaram que o incêndio foi uma represália ordenada por uma facção, já que os comerciantes não pagaram a “taxa” cobrada pelo grupo.
João Aguiar/Rdnews

Delegados Antenor Pimentel Marcondes, Gustavo Belão e Rodrigo Azem durante coletiva nesta segunda-feira
Conforme o delegado Rodrigo Azem, titular da Draco, as extorsões em Várzea Grande começaram em novembro do ano passado e foram a “gota d’água”. “Aqui na GCCO temos várias prioridades, e essa vai ser uma das principais prioridades”, destaca.
“No que depender da equipe, estamos todos empenhados em neutralizar e reprimir de maneira qualificada, com investigações técnicas e com tempo ágil, todas essas ações para que não se deixe criar um estado paralelo, que eles se intitulam. Isso não vai ser permitido em Mato Grosso”, acrescenta o delegado.
De acordo com o delegado Antenor Pimentel Marcondes, que liderou as investigações, Shelby e Maxixi abordavam os comerciantes dizendo que estavam com um “projeto novo”, não faziam ameaças e tentavam convencer os comerciantes a entrarem no esquema.
“A ameaça é gradativa. Eles chamam dizendo: ‘Nós vamos regular o mercado. Aquele comerciante que estiver vendendo muito abaixo, a gente vai procurar saber por que esse comerciante está vendendo abaixo’. Então, eles entram como um terceiro Estado regulador e depois vem ‘cobrar um imposto’. Eles querem substituir o Estado, oferecendo as supostas vantagens”, explica o delegado.
Alguns comerciantes abriam as portas para o grupo e passavam a pagar as taxas abusivas. “Eles usam esses vários artifícios do convencimento e, no último caso, a coação direta, que é aquela mesma de que vai matar, vou atacar o comércio, pegar a família da vítima, mas é gradativo”, diz.
“Nesse caso não teve represália nenhuma. Conseguimos agir a tempo. Eles não imaginavam que a gente tinha uma investigação em andamento. Justamente todos os órgãos de inteligência vinham monitorando esses criminosos”, completa.
PJC

Resguardar vítima é prioridade
Segundo o delegado Antenor Pimentel Marcondes, uma das principais preocupações da investigação foi resguardar a identidade das vítimas, para que não se crie “um alvo em suas costas”. “A gente sabe como que trabalha a facção”, afirma.
“Mas sociedade não pode ceder à facção. Nesse caso foi feito o depoimento sem rosto. Pedi audiência por áudio com distorção da voz. Outra coisa interessante que ajudou nesse caso é que as vítimas, por meio de informações anônimas, informavam o rosto do interlocutor da chamada (de extorsão), anonimizando o fundo”, salienta.