Os falsos dentistas e as atividades precárias, com falta de equipamentos e medicamentos em unidades de saúde pública são os principais problemas enfrentados pela saúde odontológica nas cidades do interior de Mato Grosso, avalia a presidente do Conselho Regional de Odontologia (CRO-MT), Wânia Dantas. Mais de 30 cidades foram denunciadas neste ano pelo CRO ao Ministério Público Estadual (MPE) por atendimento precário.
Rodinei Crescêncio
Em entrevista ao , Wânia explica que esses são os dois grandes desafios que a entidade vem trabalhando para combater e fiscalizar. “No interior do estado, o que mais temos são casos de exercício ilegal da profissão. São dentistas que se passam por cirurgiões, ou pessoas que se passam por dentistas, que querem prestar atendimento à comunidade, mas não têm formação. Isso é caso de polícia. A gente oficia a Vigilância Sanitária e a Polícia Civil, que faz a diligência, para fazer o flagrante e poder fazer a prisão dessa pessoa que está cometendo esse charlatanismo”, esclarece.
Essa fiscalização parte de denúncias de pacientes que tiveram problemas durante o tratamento e depois descobriram que o profissional não era habilitado para realizar os procedimentos executados. “Por isso é importante a comunidade buscar no site do Conselho Regional de Odontologia pelo nome do profissional ou número de inscrição, o CRO. Isso vai abrir a ficha corrida do profissional. Se ele não tiver número de inscrição é porque não tem a formação necessária”, afirma.
CRO-MT
Dentistas clandestinos já foram autuados em Rondonópolis pelo CRO-MT
“Quando o colega não é capacitado pra isso, ou uma pessoa está se passando por cirurgião dentista, essa pessoa coloca em risco a vida do paciente”
Wânia Dantas, pres. do CRO-MT
Em geral, essas irregularidades são encontradas tanto em clínicas comuns, quanto em estabelecimentos clandestinos e até dentro de residências. “Inclusive recebemos recentemente uma denúncia de um profissional atendendo como cirurgião-dentista dentro de uma casa, em uma cidade no interior. Quando o colega não é capacitado para isso, ou uma pessoa está se passando por cirurgião-dentista, essa pessoa coloca em risco a vida do paciente, da comunidade, e isso é uma questão de saúde pública”, pontua.
Atendimento precário
Além do exercício ilegal da profissão, outra situação comum em algumas cidades do interior de Mato Grosso é a precariedade do atendimento na saúde pública.
“Estamos com um problema seríssimo em Rondonópolis, por exemplo. Um problema que vem se arrastando por uma gestão que não tem um profissional da área cuidando da odontologia. Então há problemas até na compra de materiais. Por exemplo: lá foi orientado que os cirurgiões-dentistas reutilizem os sugadores descartáveis, que não podem ser reutilizados. Temos muitas denúncias de lá, inclusive de assédio moral contra dentistas, por isso estamos buscando soluções junto à prefeitura e a Câmara Municipal”, explicou.
Conforme aponta Wânia, o CRO-MT denunciou mais de 30 municípios que foram notificados por atendimento precário, mas que não responderam às notificações nem tomaram providências. Diante da denúncia, apenas três responderam. O CRO acionou ainda o Tribunal de Contas do Estado (TCE) para cobrar prestação de contas sobre o uso dos recursos para o setor. Os problemas vão desde a infraestrutura a demanda de equipes de saúde bucal.
“Nessas cidades faltam condições básicas para o cirurgião-dentista trabalhar, há equipamentos e cadeiras velhas sem manutenção, falta de material ou reutilização de materiais descartáveis. Às vezes a unidade tem seringa, mas não tem anestésico e não tem agulha. O paciente chega com dor, e o dentista não tem o que fazer. Ele tem que dar uma dipirona para o paciente, que volta para casa sem o problema resolvido. É uma falta de respeito muito grande com a comunidade e com os profissionais”, explica.
CRO-MT
Clínica clandestina que foi autuada pelo CRO-MT em Barra do Garças
“ Às vezes a unidade tem seringa, mas não tem anestésico e não tem agulha. O paciente chega com dor, e o dentista não tem o que fazer”
Wânia Rodrigues, pres. do CRO-MT
Entre os problemas há também faltade acessibilidade, más condições na sala de espera e infiltrações.
Dificuldade de acesso
Um grande dificultador para uma fiscalização mais rápida e eficiente por parte do CRO-MT é o acesso a essas cidades do interior, devido a extensão territorial e às condições precárias da infraestrutura e das estradas na região.
“Por exemplo, em Rondolândia, não há acesso por Mato Grosso, então tem que fazer a volta para chegar em uma unidade básica de saúde lá. Às vezes, em algumas cidades, o fiscal tem que atravessar duas balsas e pegar mais 160 quilômetros de estrada de chão. Aí agora na chuva o carro atola. Então são várias dificuldades. Antes não tínhamos nem carro para chegar até esses locais. Fizemos licitação para um carro, mas ele não aguentava passar nas estradas. Acabamos trocando e estamos conseguindo agora, junto ao Conselho Federal, um apoio para poder chegar até esses municípios mais longínquos”, conclui.